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Adoção: Laços para além do sangue

Juiz de fora registra adoção de 50 crianças entre 2021 e 2023
Pais relatam a mudança de vida proporcionada pela chegada de filhos adotivos ao núcleo familiar

Por Andreza Araújo
13/10/2023

Família vai muito além de compartilhar o mesmo sangue. É sobre laços afetivos, ter um porto seguro. A cada ano, mais pessoas passam a entender o sentido dessa palavra, após receberem “um presente de Deus”, como expressa Kleber Lara, pai adotivo de Karol. De acordo com registros do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), de janeiro a setembro deste ano, 23 pessoas foram adotadas em Juiz de Fora.

Existem diferentes caminhos que podem levar à expansão de uma família, desde a gestão natural ou técnicas de inseminação, até o ato da adoção – que consiste em aceitar alguém, gerado por outras pessoas, como seu filho. Foi assim que o casal Kleber Lara e Valéria de Araújo ganhou uma nova integrante em suas vidas, Karol.

Impossibilitados de ter uma concepção natural e movidos pelo sonho de aumentar seu núcleo familiar, eles decidiram pela adoção. Por ser algo novo, o processo não foi fácil, mas mudou suas vidas de uma forma inimaginável, no dia 28 de junho de 2011. “A gente sempre sonhava com uma família com crianças, e a nossa filha veio para preencher essa lacuna. A felicidade é maior do que qualquer dificuldade ou qualquer coisa que a gente venha a enfrentar. É uma graça, nós só temos a agradecer”, descreve o pai.

Karol chegou com 12 dias de vida, o que, segundo eles, foi empolgante, visto que poderiam acompanhar seu crescimento desde o início. Hoje com 12 anos de idade, a criança dá força e leva felicidade para seus pais diariamente.
‘Adota nós!’

Para Davi Alves Maçaneira, pai de Neimar, 12 anos, Maria Eduarda, 9, e Maria Clara, 6, a adoção foi uma das maiores conquistas de sua vida. A disposição para ser pai adotivo surgiu quando ele e sua ex-esposa se inscreveram no serviço de Família Acolhedora e se propuseram a cuidar de um recém-nascido de 11 dias, até que completasse 6 meses de idade. O apego emocional e carinho pelo bebê foram tão grandes que ele teve a certeza que poderia, e queria, ser pai através da adoção.

Após o divórcio, Davi sentiu que era o momento de formar uma nova família. Em 2019 ele prestava apoio a um casal da Família Acolhedora, ajudando com as três crianças acolhidas. No final do mesmo ano, elas foram encaminhadas para a adoção, porém, por serem três irmãos, sendo dois deles com mais de 6 anos, as famílias não se sentiam preparadas e acabavam não finalizando o processo.
Tudo mudou quando Davi recebeu uma declaração da criança mais velha. “O Neimar me falou: ‘tio Davi, ninguém cuida da gente como você, adota nós!’. Meu coração se estremeceu com o pedido do Nei, ser pai adotivo já era meu sonho”. Após o pedido, ele procurou a Vara da Infância para se informar sobre as etapas do processo e, em março de 2020, recebeu a guarda para fins de adoção. Essa data ficou marcada e é comemorada por eles como o aniversário de sua família.


Maioria das crianças adotadas tem menos de 3 anos
Dados do SNA mostram que, em Juiz de Fora, no período entre agosto de 2021 e agosto de 2023, 50 crianças e adolescentes foram adotadas. Desse total, 25 eram menores de 3 anos e, somente nove, maiores de 6 anos. A preferência por crianças mais novas se deve por alguns fatores, como explicado pela psicóloga Nayara dos Santos Tavares. “A criança, quando é mais novinha, tem a possibilidade de pegar parte do jeito da família que vai adotar; quando é mais velha, já tem mais vivência, então vai responder a demanda de uma nova família de uma forma diferente. Quanto mais velho, mais bagagem, mais história e, às vezes, a família não se sente preparada para sustentar isso.” Segundo ela, ainda que possa ser um processo mais longo e delicado, os casos com crianças mais velhas ou adolescentes têm retornos positivos.

Além da idade, no processo de adoção é comum a procura a partir da raça e do gênero da criança ou adolescente. Atualmente, existem 107 pretendentes com registro válido, 52 crianças em processo de adoção e 123 acolhidos. Apesar do número de indivíduos aptos a adotar ser maior do que o de crianças prontas para adoção, a busca por padrões e estereótipos ainda é algo que dificulta e aumenta o tempo do procedimento. Diante disso, Davi Alves dá um conselho para aqueles que pretendem ser pais adotivos: “abra o coração para pessoas reais, aquelas que realmente precisam de uma família. Construir uma família pela adoção é abrir-se à diversidade, unir histórias”.


Apoio psicológico
A psicóloga Nayara dos Santos Tavares trabalha em casa de acolhimento há pouco mais de um ano, tendo contato diariamente com crianças e adolescentes que foram separadas da família por algum motivo. Segundo ela, o papel da psicologia na jornada de adoção é, principalmente, dar o suporte emocional tanto para as crianças quanto para as famílias. É necessário entender a complexidade de cada caso e, durante esse tempo atuando na área, Nayara pôde vivenciar diversas reações por parte das crianças. As sensações variam entre o alívio por ter um novo lar, a culpa por aceitar uma nova família e acabar esquecendo a de origem e, também, o sentimento de rejeição, que faz com que a criança tente testar o limite dos novos pais para garantir que não será abandonada novamente.

O casal ou indivíduo que pretende adotar deve trabalhar o psicológico para o processo. É comum criar expectativas e idealizar o momento da adoção, portanto deve-se estar preparado para possíveis frustrações. “Se adotar é um desejo real, um sonho de completar uma família, vai fundo para ser uma coisa gostosa para ambas as partes”, recomenda a psicóloga.


Serviços de acolhimento fazem a diferença
Atualmente, Juiz de Fora tem oito casas de acolhimento, voltadas para crianças e adolescentes que estão sendo trabalhados pelo setor técnico das instituições, seja para voltar para a família de origem ou ir para a adoção. Outro serviço que ajuda nesse momento de preparação é a Família Acolhedora, grupo constituído por famílias que se habilitam a ficar provisoriamente com a criança ou adolescente até serem encaminhados para adoção.

Segundo a promotora de Justiça da Vara da Infância e Juventude, Samyra Ribeiro, o número de pessoas no serviço de Família Acolhedora está crescendo, o que é positivo para a criança e o adolescente, já que é bom “poder estar em uma casa estruturada, com carinho e afeto, muitas vezes mais do que a instituição acolhedora consegue dar”.
Processo para adoção

A promotora explica que o primeiro passo para dar início ao processo é encaminhar-se para a Vara da Infância e procurar o setor técnico, a fim de fazer uma habilitação de adoção. Para essa etapa, é necessário levar alguns documentos e, posteriormente, deve-se fazer um curso on-line do Tribunal de Justiça. O setor técnico da Vara da Infância, o assistente social e o psicólogo do juiz irão avaliar se o indivíduo ou casal que está se habilitando a adotar realmente está apto. Se o resultado for positivo, o nome será colocado no SNA e será feita uma triagem visando à compatibilidade entre os perfis do adotante e da criança ou adolescente.

Kleber e Valéria, após passarem pelo processo de adoção, acreditam que o principal para que seja algo tranquilo é acreditar no propósito e focar no amor que se tem para dar. “Tenham paciência e persistência, confiem no processo e tentem deixá-lo o mais humano possível. Vale a pena a espera” expressa Kleber.
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